Apesar de ser um filme sobre a violência da sociedade, corrupção policial e a promiscuidade de interesses políticos, Tropa de Elite 2 questiona também o papel e os limites do jornalismo. Coadjuvante no roteiro, a jornalista Clara, interpretada por Tainá Muller, levanta dilemas da profissão de repórter. Ao questionar o “sistema”, o custo do furo de reportagem pode ser alto demais, a ser pago com a vida. Difícil é discernir uma informação “plantada” por lobby ou relegada por “interesses de grupos” de uma de interesse público. Ainda mais se o jornalista estiver no papel de leão do circo, hora serve ao espetáculo, hora ameaça.
Uma entrevista “para jogar merda no ventilador”, quando Mathias (André Ramiro) decide criticar o governo do Estado pela situação de carnificina nos presídios do Rio de Janeiro, foi o primeiro texto publicado pela jornalista. Resultado: capitão Mathias acaba preso e fora do BOPE.
Quando Clara descobre, após entrevista com um delegado, os verdadeiros culpados pelo roubo de armas da polícia em um dos morros cariocas, o jornalismo é alçado a protagonista no roteiro de José Padilha. A investigação da repórter, com o auxílio de um deputado, desmascarava o esquema de milicianos (policiais corruptos), os verdadeiros substitutos dos traficantes no poder paralelo dos morros.
Corajosa, a jornalista descobre mais do que o necessário para ganhar capa do jornal e vira queima de arquivo, junto com seu fiel fotógrafo. O deputado vai até o jornal e cobra a publicação da reportagem, mas ouve um estereotipado editor “vendido” dizer que não publicará porque tem “boas relações” com o governo.
Após uma gravação da escuta do telefone de Clara minutos antes de morrer ser divulgada pela Assembleia Legislativa, não há mais o que encobrir. O jornalismo, o Legislativo e o Capitão Nascimento expõem à sociedade a relação espúria entre polícia, governo e eleições.
Mesmo com o circo armado, a democracia brasileira reelege os governantes, atenua os crimes, relativiza as responsabilidades e a vida em sociedade prossegue sem sobressaltos até o próximo furo de reportagem “abalar o sistema”. O jornalismo resistirá.